terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O café

Cheiro de café. Sim, ela acordou mais cedo. Mal consigo abrir os olhos, mas preciso, ela já saiu da cama. Tenho que mostrar que já sou adulto, que estou bem. Tenho que mostrar que nada aconteceu, afinal, sou o tal macho da casa. Noite barulhenta, ninguém conseguia dormir. Eu rondei a casa durante a noite toda, só ouvia sons fora de casa e não sabia o que fazer. Também ouvia ela rolando na cama pra pegar no sono, que por sinal, não veio. Esse pode ser o motivo dela ter levantado mais cedo. Geralmente ela só acorda quando o som do trêm começa e só sai da cama quando ele acaba. Hoje foi diferente, talvez pela noite quente, talvez pelos barulhos em volta da casa, talvez até pelos barulhos que eu fiz. Juro que ouvi ela chamando meu nome e pedindo o que estava acontecendo, mas não dei bola, eu estava muito concentrado na parte de fora da casa. Eu não sou de perder noites de sono, sou o famoso "deita e dorme". E tem coisa melhor?
Ela ainda está na cozinha, ouço seus passos lá, e algumas reclamações também. Chego perto e o cheiro de café fica mais forte. Também sinto um clima pesado perto dela, ela não está contente. Ela está parada ao lado da pia, naquela posição que vejo todas as manhãs, ela de pé, com a xícara na mão esquerda, mão direita apoiada na pia e as pernas trançadas. Sempre admirei a maneira que ela trança as pernas uma na outra.
Fui chegando perto, tentando mostrar algum carinho, mas seu olhar foi de reprovação. Aquele olhar de sono misturado com decepção me deixava muito mal. Tentei expressar alguma reação, mas ela nem me deixou abrir a boca e já foi perguntando, "Por que? Por que hoje? Por que justo hoje?". Eu não fiz nada, só queria um afago, minha noite também foi péssima. Mas ela jamais entenderia. Notei a pasta em cima da mesa, a pasta dos dias importantes. Nunca entendi muito bem o porquê daquela pasta amarela ser tão importante, mas quando ela aparecia, os dias eram corridos. E hoje não seria diferente.
Ah se ela soubesse que só tentei proteger ela, que eu estava ouvindo ruidos por todos os cantos da casa. Pra ela pode não ser muito, mas ela pra mim é tudo.
Tentei chegar mais uma vez perto, ela nem me olhou. Olhei pra ela, ela parecia mais alta que o normal, ou eu mais cansado que o comum. O importante é que dessa vez funcionou, ela me olhou com aquele olhar que me derruba. E derrubou. Tive que fazer uma graça, me deitei aos pés dela e fiquei brincando, ela adora isso, mesmo nos piores momentos, ela sempre adora.
Quando menos percebi meu café da manhã já estava pronto e ela com as mãos nas minhas costas.
O velho ritual de servir minha comida e me fazer um carinho. Existe coisa melhor?
Não pra mim, não pra um cão como eu.
E ser o cão dela, é a melhor coisa do mundo, pelo menos desse mundo que eu conheço.

3 comentários:

  1. Adoreeei, Marlon!
    Me pegou direitinho, hein?
    Já começou com o pé direito!
    Espero que teu blog tenha vida longuíssima!

    Beijo!

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  2. Que legal! haha
    Me pegou também :P
    Amei!
    Boa sorte com o blog!
    Sucesso!
    Beijos :*

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  3. Percebi do que se tratava da metade p/ o final!
    Bacana o texto! hehehe Gostei!

    Beijoss

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